Enquanto as nações ocidentais são frequentemente elogiadas por adotar diversos costumes, o Japão adota uma abordagem diferente ao preservar ferozmente sua cultura única. Apesar disso, inúmeras facetas da sociedade japonesa ganharam grande admiração, como o mangá, que conquistou uma legião de devotos nos Estados Unidos, França, Itália e Portugal – e claro, aqui no Brasil também.
Numerosas séries de mangá foram adaptadas em produções de anime para atingir um público mais amplo. Essa relação simbiótica beneficia ambas as partes, pois a popularidade do mangá impacta diretamente no sucesso da adaptação do anime. Por outro lado, as adaptações de anime revivem e prolongam a fama da série, atraindo espectadores curiosos que acabam comprando o mangá para obter mais conteúdo. Este fenômeno tem raízes profundas na história cultural única do Japão.
Antes de tudo, precisamos fazer uma contextualização histórica. Para começar, mangaka é o termo que se refere aos criadores do mangá. E falo “criadores”, pois há muitos casos que uma única pessoa pode produzir um mangá sozinho. Contudo, muitos podem focar mais na parte do roteiro da história de um mangá ou na ilustração. Por exemplo, ao falarmos de Death Note, a obra é fruto de uma parceria: a série de mangá foi escrita por Tsugumi Ohba e ilustrada por Takeshi Obata. Já Dragon Ball foi escrita e ilustrada especificamente pelo mangaka Akira Toriyama.
Aprofundando na parte histórica? Muitos dos autores japoneses mais famosos da atualidade cresceram em um Japão que experimentou de tudo, desde a queda do império até os bombardeios americanos. Esses indivíduos escolheram expressar suas experiências através da arte, resultando na criação de populares séries de mangá como Dragon Ball, Naruto, One Piece, Death Note, Full Metal Alchemist, Attack on Titan (Shingeki no Kyojin) e One Punch Man. Hoje, mangá e anime não são mais vistos apenas como uma representação da cultura japonesa, mas sim como uma faceta proeminente da cultura pop contemporânea.
Para aqueles que não estão familiarizados com a indústria, é crucial diferenciar entre mangá e anime e como essas formas de arte diferem dos quadrinhos ocidentais. Este é o primeiro passo para entender este campo único.
O mangá, um estilo distinto de história em quadrinhos e história em quadrinhos japonesa, diverge dos estilos ocidentais devido às suas técnicas de desenho, histórias e influências culturais únicas. Ao contrário da literatura ocidental, o mangá é lido da direita para a esquerda e é fortemente influenciado pela rica história e valores do Japão. O anime, por outro lado, já veio da palavra “animation” que significa animação. Contudo, também usamos mais a expressão “anime” para especificar a animação que transforma os mangás em obras animadas. Afinal, os animes mantêm o mesmo estilo e linha icônica de suas contrapartes estáticas. Em suma, há vários nomes distintos para histórias em quadrinhos graças às variedades de estilos, técnicas e influências culturais.
A sua ampla popularidade resultou em sua ampla adoção no mundo da animação e da arte contemporânea. A influência do mangá pode ser vista em todos os lugares e se tornou uma característica proeminente da arte digital exibida em plataformas como o DeviantArt. Existem vários gêneros e subgêneros de mangá, incluindo o amplamente popular “Hentai”, ou seja, o conteúdo erótico. Curiosamente, a arte erótica faz parte da cultura japonesa há séculos, antecedendo o próprio mangá e pertencendo a uma veia artística chamada “Shunga”. Este estilo é considerado arte clássica, em total contraste com o “Hentai” mais exploratório e contemporâneo, que ultrapassa os limites em termos de forma e conteúdo.
Além dos animes, podemos citar outras obras que adaptam os mangás. Em primeiro lugar, as live-action. Da mesma forma que a Disney está produzindo longas-metragens de suas animações clássicas, como A Pequena Sereia e Aladin, o mundo dos mangás também já recebeu e continua a receber longas-metragens tanto em animação quanto em live-action. Na plataforma de streaming Netflix, você poderá encontrar as live-action de Bleach e Samurai X, por exemplo!
Em segundo lugar, jogos eletrônicos. Existem diversos jogos que se relacionam com o universo dos mangás, adaptando as suas histórias ou então aproveitando de seu estilo artístico quanto de jogabilidade. Por exemplo, um jogo que gosto muito e que aproveitou o estilo artístico dos mangás foi Neo: The World Ends with You. Além disso, obras como Bleach e Naruto receberam adaptações para jogos de luta.
Muitos desses jogos são inspirados em séries ou animes populares, enquanto outros, como no caso do Pokémon, inspiraram adaptações para a televisão e para as histórias em quadrinhos. E podemos falar algo similar sobre The Legend of Zelda, que inspirou uma série gigantesca de mangás.
Nos jogos inspirados em animes populares, a jogabilidade muitas vezes incorpora elementos de ficção científica e poderes sobrenaturais típicos dessas histórias. Jogos como Code Vein, Dragon Quest XI, Tales of Berseria e outros que apresentam gráficos marcantes, influenciados pelo estilo visual dos animes, ganharam grande popularidade entre jogadores de PC e consoles. A imersão no mundo dos animes pode ser uma forma eficaz de atrair jogadores para jogos que eles possam gostar.
Por quesito curiosidade, alguns dos mangás mais famosos atualmente são:
A popularidade do mangá no Ocidente, juntamente com a cultura pop e outros aspectos japoneses, aumentou significativamente. Alguns dos melhores animes são agora grandes sucessos na América e na Europa, sendo que alguns criadores ocidentais começaram a adotar o estilo artístico. Por exemplo, a animação “Avatar – The Last Airbender” foi escrita no Ocidente, mas apresenta traços da cultura asiática. Por outro lado, o anime “Attack on Titan”, criado por um artista japonês, tem uma história inspirada em características do folclore irlandês.
Com a globalização do mangá, surgiram diversas subclasses com características próprias, como o “Mangá Francês” ou o “Mangá Americano”. Embora tenham ganhado suas próprias características distintas, todas as variantes mantiveram o toque artístico japonês do mangá, adaptando-o para o público ocidental com conteúdo e histórias que apresentam significado local.
Os criadores ocidentais valorizam a orientação e talento dos artistas japoneses, mesmo quando adaptam suas histórias ao público de maneira única no estilo manga. É por isso que o Japão é conhecido como a capital mundial do manga.
Apesar de ser produzido em massa e a baixo custo, o manga é considerado um bem de alta qualidade devido às suas emoções e narrativas únicas que satisfazem o público.
O sucesso do manga vem de sua forma de arte/entretenimento menos restritiva em termos de conteúdo ilustrado em comparação com a arte produzida pelas culturas ocidentais. Para alguns, é um gênero de fuga da sociedade, menos inibido em temas sensíveis como horror, superstição, sexo, monstros e outros.
No Japão, os “Kosupure”, ou cosplayers em todo o mundo, são indivíduos que adotaram o cosplay como um hobby e o popularizaram em todo o mundo. Contrariando a crença popular, o cosplay não começou no Japão, mas no ocidente, na primeira convenção mundial de ficção científica em Nova York, em 1939, com os trajes futurísticos criados por Morojo (Myrtle R. Douglas). Desde então, o cosplay se tornou uma das formas mais populares de expressão artística, especialmente no universo dos mangás e animes.
Os cosplayers dedicam-se a recriar seus personagens fictícios favoritos com a maior fidelidade possível na vida real e colocam todo o seu esforço em suas criações. Hoje em dia, milhares de contas do Instagram são usadas para promover cosplayers e seus melhores trajes e trabalhos de maquiagem e caracterização.
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