O Conto da Princesa Kaguya combina uma narrativa envolvente com uma estética visual deslumbrante, evocando o estilo suave e etéreo de uma pintura em aquarela. O filme reconta a antiga lenda japonesa do Conto do Cortador de Bambu de forma emocionante, seguindo a trajetória de Kaguya, uma princesa que nasce de forma mística, emergindo de um caule de bambu radiante. Encontrada por um humilde cortador de bambu, Kaguya é considerada um presente celestial e, em sua visão, destinada a uma vida de nobreza. Ao longo de sua vida, ela é forçada a abandonar sua infância simples e feliz no campo para ser moldada à imagem de uma princesa, enquanto o desejo por liberdade e pela vida simples que deixou para trás continua a crescer em seu coração.

À medida que Kaguya amadurece, sua beleza estonteante atrai a atenção de inúmeros príncipes e nobres, que competem por sua mão em casamento. No entanto, esses pretendentes falham em compreender o verdadeiro espírito livre de Kaguya, que não deseja ser confinada aos papéis tradicionais e aos luxos da corte. Seu coração anseia pela simplicidade da vida que vivia antes, no campo, e, cada vez mais sufocada pelas expectativas e restrições da vida nobre, ela começa a olhar para o céu em busca de respostas. É então que Kaguya, em um momento de desespero, invoca a Lua, seu verdadeiro lar, para ajudá-la a escapar dessa existência terrena. Movidos por seu pedido, os emissários da Lua vêm buscá-la, levando-a de volta ao reino celestial, apesar de sua crescente ligação emocional com sua família e o mundo humano.

O filme aborda de maneira pungente e filosófica a questão da impermanência, um tema que permeia cada aspecto da vida de Kaguya. Desde sua felicidade simples como filha de um cortador de bambu, passando pelo luxo temporário da vida de princesa, até o desfecho inevitável de seu retorno à Lua, O Conto da Princesa Kaguya é uma reflexão profunda sobre a transitoriedade da existência. A beleza, a riqueza, o status e a própria vida são mostrados como elementos efêmeros, que, por mais que sejam valorizados ou buscados, nunca permanecem constantes. Kaguya, como todos os seres humanos, é levada por esse fluxo de mudança, tentando encontrar um equilíbrio entre suas raízes humildes e as exigências do destino que lhe foi imposto.

A arte delicada do filme complementa perfeitamente a história, com uma animação que captura o movimento suave e a natureza fugaz de cada momento vivido por Kaguya. O estilo em aquarela, com traços soltos e cores suaves, realça o tom onírico e melancólico da narrativa, reforçando a ideia de que cada cena é passageira, como se estivesse sendo pintada em tempo real, apenas para se dissolver logo em seguida. Essa estética visual única oferece uma sensação de fluidez e impermanência, que espelha a jornada emocional de Kaguya e as mudanças inevitáveis em sua vida.

Mais do que apenas uma fábula, a produção apresenta uma visão madura e contemplativa da vida, tornando-o um filme que exige um pensamento crítico e uma compreensão mais profunda das nuances emocionais e filosóficas para ser plenamente apreciado. Embora o filme possa ser visualmente atraente para espectadores de todas as idades, seus temas de desapego, o peso das expectativas sociais e a inevitabilidade da mudança ressoam de maneira mais poderosa com o público adulto. A mensagem subjacente, de que tudo é transitório e que a verdadeira felicidade não reside nas posses materiais ou no status social, mas sim em uma vida vivida em harmonia com as próprias aspirações e valores, é uma reflexão profunda sobre a natureza da existência.

O filme, portanto, se destaca no portfólio do Studio Ghibli por sua abordagem lírica e filosófica da vida e da morte, e pela forma como lida com questões existenciais universais. A história de Kaguya não é apenas sobre a jornada de uma princesa; é uma alegoria sobre a fragilidade da felicidade e a inevitabilidade da perda. É um lembrete poderoso de que, como seres humanos, estamos todos sujeitos à impermanência e que, independentemente das circunstâncias ou das tentativas de controlar o destino, as mudanças são constantes e inevitáveis. O que permanece é a memória, o impacto das escolhas e a beleza momentânea das experiências vividas.

Em última análise, O Conto da Princesa Kaguya  é uma obra que, além de ser visualmente encantadora, também carrega uma profundidade emocional e filosófica que a torna uma das criações mais maduras e tocantes do Studio Ghibli, destinada a ressoar especialmente com aqueles que já experimentaram as complexidades e as nuances da vida adulta.