Será que Evangelion realmente merece o título de obra-prima?

Neon Genesis Evangelion

Será que Evangelion realmente merece o título de obra-prima?

Quando se fala em obras-primas de anime, Neon Genesis Evangelion quase sempre entra na conversa. É frequentemente citado como um marco artístico revolucionário que redefiniu a narrativa em animes. Após assistir à série original de 1995 e aos filmes que a sucederam, não consigo deixar de me perguntar o que exatamente o torna tão especial? Para mim, a aclamação simplesmente não condiz com a experiência que tive ao assisti-lo.

Nops, nunca me conectei com a sua história, personagens e tom. Há uma diferença entre algo ser influente e ser agradável ou significativo. Apesar de sua reputação como uma exploração profunda da psique humana, Evangelion parecia mais um experimento confuso do que genuinamente uma obra-prima.

O problema da hipersexualização em Neon Genesis Evangelion

Neon Genesis Evangelion

Um dos aspectos mais difíceis de superar em Neon Genesis Evangelion é a hipersexualização generalizada de personagens adolescentes. Asuka e Rei, duas das figuras mais centrais da história, são constantemente retratadas de maneiras que parecem voyeurísticas e, muitas vezes, completamente desnecessárias. Seus trajes justos, as poses exageradas e os ângulos de câmera prolongados minam o potencial de seus arcos de desenvolvimento, que poderiam ter explorado de forma convincente temas como trauma, identidade e crescimento pessoal. Ao invés de aprofundar suas complexidades psicológicas, a narrativa frequentemente reduz essas personagens a objetos de observação, comprometendo a profundidade emocional que a série tanto tenta alcançar.

Lembro de quando assisti aos filmes da franquia Neon Genesis Evangelion pela primeira vez, pela Prime Video. Um rapaz achou ruim ao ver minhas críticas, enquanto eu nunca entendi como as pessoas NÃO se se incomodam com a sexualização de adolescentes. Pior ainda, certas cenas atravessam a linha do desconfortável para o absolutamente perturbador.

Algo que considerei perturbador? A infame sequência no hospital, envolvendo Shinji e Asuka inconsciente, não é apenas de mau gosto, pois é praticamente indefensável. Para uma obra que se propõe a explorar depressão, solidão e os desafios da maturidade emocional, momentos como esse se tornam exploratórios em vez de esclarecedores. Em vez de gerar empatia ou reflexão, provocam apenas desconforto, frustração e uma sensação de que certos limites éticos foram ignorados em nome do choque.

Não se trata apenas de cenas isoladas. Os relacionamentos entre adultos e menores em Evangelion levantam questões éticas significativas que a história raramente aborda de forma crítica. As interações de Misato com Shinji, por exemplo, muitas vezes flertam com territórios claramente inapropriados e pedófilos, mas sem qualquer análise ou repercussão real dentro da narrativa. A série parece brincar com esses limites mais como um recurso de choque do que como um comentário social, o que acaba minando a pretensa profundidade que tantos elogiam. Esse tipo de conteúdo me leva a questionar até que ponto a fama de “brilhantismo” da obra se sustenta sobre seu mérito narrativo ou apenas sobre sua capacidade de chocar e provocar polêmica.

Uma narrativa sem profundidade

Neon Genesis Evangelion

Outro problema que tive com Evangelion é o quão desnecessariamente confuso ele se torna. Entendo que parte de sua reputação venha do simbolismo complexo e da profundidade psicológica, mas existe uma diferença clara entre ser profundo e ser incompreensível. A série frequentemente confunde ambiguidade com arte, sobrepondo iconografia religiosa vaga, referências filosóficas dispersas e diálogos enigmáticos sem oferecer aos espectadores pontos sólidos de apoio ou contexto suficiente para interpretação. Isso cria uma sensação de esforço excessivo para impressionar intelectualmente, mas que acaba afastando parte do público.

Não estou dizendo que não curto tramas complexas (please, leitora de Machado de Assis aqui). Séries como Gosick e Attack on Titan lidam com temas igualmente densos, como por exemplo a guerra, identidade e medo existencial. Isso sem falar de Diários de uma Apotecária, que também trás a servidão e escravidão como tema. Entretanto, conseguem transmiti-los com clareza e ressonância emocional, equilibrando ação e introspecção.

Evangelion, por outro lado, muitas vezes parece se esforçar demais para soar intelectual. Seu simbolismo é legal em teoria, mas raramente se conecta de maneira significativa às lutas reais dos personagens, deixando momentos cruciais emocionalmente diluídos ou confusos. É preferível assistir One Piece, que entrega muito mais do que promete, incluindo algumas críticas sociais e sem fingir ser cult.

Os dois últimos episódios da série são frequentemente defendidos como geniais e incompreendidos, mas, para mim, soam mais como subprodutos do caos da produção do que como decisões artísticas intencionais. Hideaki Anno, criador da série, admitiu ter enfrentado uma depressão severa durante a produção, o que explica em parte a narrativa fragmentada e crua. Embora esse contexto torne Evangelion um estudo de caso interessante sobre criação artística sob tensão pessoal, ele não transforma automaticamente a obra em uma narrativa coerente ou satisfatória.

Até mesmo The End of Evangelion, o filme que pretendia “consertar” o final da série, parece mais um ataque ao público do que uma resolução clara. Suas imagens surreais, ritmo desarticulado e alternância abrupta entre introspecção e violência me deixaram mais perplexo do que impressionado. É possível perceber a ambição por trás disso, mas ambição, por si só, não garante significado ou impacto emocional. Há uma linha tênue entre introspecção profunda e autoindulgência, e Evangelion frequentemente a cruza, deixando o espectador mais confuso do que tocado.

Neon Genesis Evangelion teve ótimos temas, mas execução ruim

Neon Genesis Evangelion

Para dar crédito a Evangelion, a série claramente mira alto. Ela tenta dissecar a solidão, o trauma e a necessidade humana de conexão de maneiras que poucas obras de anime ousam. A premissa tinha potencial para ser sensacional. Mas, para mim, a execução frequentemente erra. Os momentos emocionais mais intensos ficam soterrados sob camadas de confusão, alienação e simbolismo excessivamente denso, dificultando qualquer conexão genuína com os personagens.

Os personagens, embora interessantes no papel, raramente apresentam evolução satisfatória. Shinji é muitas vezes criticado por ser passivo e autocompassivo; embora essa caracterização seja intencional, não torna assisti-lo menos frustrante. Se ao menos os outros personagens tivessem tido um melhor crescimenteo…

O orgulho e a vulnerabilidade de Asuka poderiam ter formado um arco fascinante e complexo, mas a série frequentemente a reduz a um elemento de fanservice ou a um espetáculo emocional desconexo. Rei, talvez a mais enigmática das três, nunca se sente plenamente humana a ponto de que sua situação existencial realmente ressoe com o público. Essa distância emocional torna mais difícil investir na jornada de cada um deles.

É irônico que Evangelion se proponha a ser um estudo de personagem e. paradoxalmente, os próprios personagens muitas vezes pareçam distantes ou intangíveis. Em contraste, obras como The Promised Neverland exploram traumas de infância e ambiguidade moral por meio de uma narrativa precisa e focada. Essa série consegue transmitir a mesma sensação de pavor, tensão e questionamento existencial sem afogar o público em metáforas opacas ou imagens excessivamente abstratas, tornando a experiência mais acessível e emocionalmente envolvente.

No fim das contas, Evangelion se apresenta como um quebra-cabeça que nunca foi pensado para ser resolvido. Essa abordagem pode agradar a alguns espectadores que gostam de decifrar camadas de simbolismo e abstração, mas, para mim, acabou sendo mais exaustiva do que esclarecedora. Fica a sensação persistente de que a série queria parecer profunda, em vez de realmente comunicar algo profundo, deixando a experiência mais frustrante do que iluminadora.

Trailer

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Austra Caroline

Sou bacharel em Arqueologia e atualmente curso Jornalismo Digital. Tenho paixão pela escrita e pela construção de narrativas, com obras publicadas tanto na Amazon quanto gratuitamente na plataforma +Fiction. Sou fundadora da Universo Japanese Music e atuo como redatora profissional, com foco em conteúdos voltados para o universo nerd, geek e a cultura pop. Amante dos jogos de ação estilo Hack & Slash, tenho um carinho especial pela franquia Devil May Cry.

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